
Elizabeth – A Gatinha do Mato da Jovem Guarda
Uma estrela que brilhou forte nos anos 60, mas que o tempo quase apagou.
1. Infância, juventude e origem familiar
Elizabeth Rosa dos Santos nasceu em São Paulo, capital, em 1944. Vinda de uma família simples e numerosa, era irmã do também cantor Tony Angeli, o que a colocaria, ainda que indiretamente, em contato com o meio artístico. Desde jovem, Elizabeth mostrava interesse pela música, mas seus primeiros anos foram marcados pelas limitações financeiras e pela discrição de quem vivia à margem dos grandes centros da fama.
Apesar disso, seu talento natural e a voz doce e afinada chamavam a atenção. Em meio à explosão do rock nacional e da Jovem Guarda, a adolescente sonhadora de São Paulo encontraria seu lugar ao sol, mas a caminhada até os palcos foi construída com esforço, portas fechadas e um carisma que a diferenciava das demais.
2. Início da carreira e ascensão na Jovem Guarda
Elizabeth começou a cantar ainda na juventude, mas foi no início dos anos 60 que sua carreira deu os primeiros passos concretos. Influenciada por nomes como Celly Campello e Connie Francis, ela logo foi abraçada pelo movimento que sacudia a juventude brasileira: a Jovem Guarda.
Seu timbre melódico, sua postura tímida e ao mesmo tempo firme, e a forma como interpretava as canções renderam à jovem o apelido carinhoso de "Gatinha do Mato", dado pelo apresentador Chacrinha. A alcunha fazia referência à sua personalidade reservada e ao seu jeito quase silvestre de se manter à parte dos escândalos, enquanto encantava o público com a voz suave.
Elizabeth se apresentou em diversos programas de TV, como o Jovem Guarda na TV Record, o Clube do Bolinha, além de atrações de auditório por todo o Brasil. Ela dividiu espaços com nomes como Roberto Carlos, Wanderléa, Erasmo Carlos, Martinha, Eduardo Araújo e Jerry Adriani.
3. Sucessos, estilo musical e parcerias
Elizabeth logo encontrou espaço entre as vozes femininas do iê-iê-iê brasileiro. Seu maior sucesso foi a canção “Sou Louca Por Você”, versão em português de I’m Fool for You (Ike & Tina Turner), lançada em 1967. A música explodiu nas rádios e tornou-se um de seus cartões de visita. O público se identificava com sua entrega emocional e simplicidade.
Outros destaques de sua carreira incluem:
- “Conversando com meu Coração”
- “E o Tempo Vai Passando”
- “Viver Sem Ter Ninguém”
- “Quando Chega a Noite”
Elizabeth tinha um repertório que mesclava baladas românticas com leves influências do rock norte-americano e da música italiana — herança que também vinha de seu irmão Tony Angeli. Sua presença cênica era discreta, mas carismática. Em um tempo em que muitas cantoras apostavam no glamour e na sedução, Elizabeth se destacava por uma imagem mais singela, quase campestre.
Ela também participou de coletâneas e projetos musicais ao lado de outras estrelas da Jovem Guarda, sendo presença constante em LPs temáticos e especiais da gravadora Continental, onde lançou a maior parte de sua discografia.
4. Polêmicas, vida pessoal e distanciamento da mídia
Diferente de outros artistas de sua geração, Elizabeth não protagonizou grandes escândalos ou polêmicas. Sua vida pessoal sempre foi protegida e longe dos holofotes. Essa postura reservada, no entanto, também fez com que, ao longo dos anos 70, ela perdesse espaço para artistas que souberam se adaptar à transição da Jovem Guarda para a MPB e o pop nacional.
Nos anos 70 e 80, Elizabeth passou a fazer apresentações mais esporádicas. Não há muitos registros sobre sua vida após o auge, o que levanta uma série de questionamentos sobre sua trajetória longe dos palcos. Ela teria se afastado voluntariamente? Teria encontrado resistência da indústria para se reinventar? Ou simplesmente preferiu uma vida anônima após o estrelato precoce?
Fontes escassas e a ausência de registros atuais sugerem que a cantora, como tantos outros nomes da Jovem Guarda, foi vítima do esquecimento que a mídia impõe aos que não seguem se reinventando.
5. Discografia completa
A discografia de Elizabeth, apesar de não extensa, é significativa dentro do movimento jovem-guardista. Segue a relação completa com base em registros da época:
Compactos (7”)
- 1966 – RCA Victor
Lado A: Conversando com meu Coração
Lado B: Sou Louca por Você - 1967 – RCA Victor
Lado A: Quando Chega a Noite
Lado B: Viver Sem Ter Ninguém - 1968 – RCA Victor
Lado A: E o Tempo Vai Passando
Lado B: Vem Me Dizer
LPs
- 1967 – Elizabeth – LP completo (Continental ou RCA Victor)
Inclui suas principais faixas e consolidou sua carreira.
Participações em coletâneas
- As Preferidas da Juventude
- Os Grandes Sucessos da Continental
6. Legado, resgates atuais e um raro registro recente
Embora não tenha alcançado o mesmo reconhecimento histórico que outras cantoras da Jovem Guarda, Elisabeth permanece como símbolo de uma era marcada pela juventude, pelo romantismo e pelo sonho de uma música mais leve.
Seu legado vem sendo resgatado nas últimas décadas por pesquisadores da música brasileira, canais de colecionadores, blogs especializados e iniciativas digitais que preservam a memória afetiva de uma geração. Canções como “Sou Louca por Você” continuam emocionando ouvintes antigos e cativando novos públicos que descobrem sua obra pela primeira vez.
Um ponto pouco conhecido, mas de extrema relevância, é que Elisabeth também é compositora. Em um vídeo raro publicado no YouTube há cerca de quatro anos, ela aparece segurando um violão e interpretando uma canção inédita de sua autoria — uma prova clara de que sua veia artística segue pulsando, mesmo longe da mídia.
Apesar da ausência de informações recentes ou aparições públicas, acredita-se que Elisabeth esteja viva, vivendo de forma discreta, fiel ao perfil reservado que sempre manteve ao longo da vida. Sua história merece ser lembrada, não apenas como uma das vozes femininas da Jovem Guarda, mas como uma artista de autenticidade rara, cuja obra ainda tem muito a dizer.
Assista ao vídeo raro com Elisabeth interpretando uma composição própria:
Clique aqui para assistir no YouTube
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